quinta-feira, 22 de novembro de 2018

MICROCEFALIA: a doença que sumiu das manchetes

Beatriz Fróes
Fonte: Julie Steenhuysen, Reuters
g1.com (Adaptado)
em 17/10/2018  e Alexandre Yuri, 
redebrasilatual.com (Adaptado)
em 17/10/2018

Foto: rgadvocaciape.com.br

Aproximadamente três anos atrás, o Brasil enfrentava um surto de Zika que teve, dentre diversas consequências, a causa de milhares de casos de microcefalia e outras anormalidades em recém-nascidos.

O Zika foi o primeiro vírus de mosquito conhecido por afetar o desenvolvimento dos fetos e, mesmo depois de tanto tempo, órgãos mundiais de saúde temem a disseminação para novas populações, segundo pesquisa.

Mas como as mães das crianças que foram atingidas pelo vírus lidam com essa doença hoje em dia? Para começar, o poder público vendou seus olhos para esse tipo de problema, o que dificulta as pessoas que necessitam de recursos. No nível federal, a fragilidade governamental é evidente. O SUS e a saúde da população deixaram de ser uma prioridade orçamentária do governo.

"Nós continuamos enfrentando problemas sérios. A minha filha, por exemplo, está com uma sonda provisória que tem que ser trocada por uma definitiva com urgência. Ela está correndo perigo de vida por causa disso, não temos recursos para comprar uma sonda e o governo não nos fornece. Entrei com uma ação no Ministério Público, mas ainda estamos aguardando resposta", afirmou a mãe de uma criança micro de 2 anos e 4 meses, que preferiu não se identificar.

Mas segundo a pesquisa de uma antropóloga, essas mães não desistiram de seus filhos e começaram a se mobilizar. Primeiro nas salas de espera dos serviços de saúde, depois nos corredores das clínicas de reabilitação, por fim nas organizações não governamentais que abraçaram a causa. Elas passaram a ir às audiências públicas, aos gabinetes dos deputados no Congresso Nacional, às farmácias públicas. Reclamam que um remédio não chega, que um hospital não está atendendo e que um projeto de lei precisa de suporte.

"As mulheres criaram outras redes, por falta de familiares, com os profissionais de saúde, as assistentes sociais e terapeutas de reabilitação e, mais do que tudo, com as outras 'mães de micro'. Elas mantêm grupos de WhatsApp que são super assíduos, é um meio de comunicação importante onde podem pedir informações, dar conselhos, desabafar e se consolar quando preciso. Mas também onde podem circular dicas de eventos, festas, diversão ao redor dos bairros da cidade. É uma sociabilidade intensa, que vai além da microcefalia, que se tornou amizade e força política", destaca a antropóloga.

Alguns jornalistas do Brasil foram atrás de mães que contraíram o Zika na gravidez. O resultado é que a maioria delas foi abandonada pelos maridos e cuida sozinha das crianças, com muito preconceito e incompreensão até da própria rede familiar. Muitas dessas mulheres abriram mão da própria realização pessoal para dar assistência à criança que não pode andar e falar. Muitas delas confessaram ter desespero e depressão, algumas consideraram suicídio. Mas elas têm em comum o amor forte pelas crianças e esperança de uma vida melhor.

- Sou muito feliz por ser mãe da Valentina. Deus só entrega uma criança como essas para quem tem capacidade de dar muito amor e carinho a elas. Se ele confiou em mim para isso, é porque eu sou capaz - diz Fabiane Lopes, de 32 anos, moradora de Duque de Caxias, mãe de outros quatro filhos, que foi abandonada pelo pai da menina no terceiro mês de gestação. "As pessoas não respeitam os direitos da minha filha", diz uma mãe. Outras contaram histórias semelhantes a essa, como a de um passageiro de ônibus que se recusou a seguir a viagem com "esse demônio", referindo-se a um bebê com microcefalia.

Segundo o Jornal da Paraíba, neste ano, alguns cuidadores fazem treinamento para atender crianças com microcefalia. O treinamento foi com profissionais de um núcleo de educação do Samu e envolveu orientações de primeiro socorros para que os cuidadores fiquem aptos a todas as situações.

Em Campina Grande, são atendidas no Centro Especializado em Reabilitação, 103 crianças com microcefalia, sendo 74 provenientes da Síndrome Congênita Zika Vírus. Desse total, 30 crianças são de Campina Grande, tendo capacidade de atender o dobro dessa demanda, até 60 crianças e suas famílias. Elas serão assistidas por equipe multiprofissional com assistentes sociais, psicólogos, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais e cuidadores.

Entretanto, em pesquisa, essa essa é a última notícia que se tem sobre mobilização em prol da ajuda para as famílias que estão passando por uma escassez de recursos de saúde governamentais, em 2018.

Nenhum comentário:

Postar um comentário